(Quem nunca?)
Setembro é um dos meses que marca transições de ciclos, dentro do ano. Ciclo, começo e fim de algo. Setembro fala sobre o final do inverno, setembro fala sobre o começo da primavera. E é na primavera que a vida, a cada ano, desabrocha em seu colorido de flores, perfumes e cantos de pássaros. Talvez, por esse motivo, seja setembro o mês escolhido para falarmos sobre a importância da vida e lembrarmos que os ciclos - por mais difíceis que possam parecer- começam e terminam. As marés sobem e descem. Nossos batimentos cardíacos são simbolizados por linhas que também sobem e descem. Momentos de alegria surgem, começam e terminam. Tristezas surgem, também começam e também terminam.
O que marca a vida é esse eterno pulsar, o tiquetaquear do relógio, o claro e o escuro, a noite e o dia. Há momentos, porém, em nossas vidas, nos quais podemos nos sentir presos em um inverno interminável, como se estivéssemos buscando acordar de um pesadelo. Por vezes, faltam perspectivas e a agonia é tanta que o pensamento fica blindado. A única alternativa parece ser... desaparecer. David Zimerman (2008), médico psiquiatra e escritor renomado, relata o caso de uma paciente que ingeriu analgésicos em grande quantidade e precisou ser atendida no HPS de Porto Alegre. Após atendimento emergencial, ele pergunta a ela “O que houve de tão grave para a senhora querer morrer?”. A senhora olha para ele e parece não compreender a pergunta e responde: “Doutor, Deus me livre, eu não queria morrer…”. A questão é justamente essa: queremos viver, apenas queremos acordar do pesadelo. Queremos viver. Porém, apenas queremos matar a dor. Queremos a vida, mas estamos presos em uma bolha de sofrimento que embaça nossa visão.
Quem nunca? - eu pergunto. Quem nunca sentiu esse cansaço em algum momento da vida? Quem nunca sentiu vontade de gritar, mas sorriu e seguiu nas atividades do seu dia? O escritor e ilustrador Matthew Johnstone fala sobre sua história de superação da depressão em uma animação postada no site oficial da ONU (“I had a black dog, his name was depression” https://youtu.be/XiCrniLQGYc) Nela, mostra o quanto foi importante buscar ajuda, durante o período. Admitir que estamos sofrendo e buscar ajuda são atitudes que mostram nossas capacidades (não incapacidades, como muitos imaginam). Somos seres interconectados e interdependentes. Os seres humanos evoluíram na natureza, graças à força que encontram na coletividade. Vivemos em uma sociedade e nela nos nutrimos. Por meio dela, nos fortalecemos.
Se você estiver em uma maré difícil, não tenha vergonha de perceber que precisa de ajuda para desencalhar o barco e voltar a navegar. Se estiver em uma maré alta e perceber que há um barco perdido e à deriva, acolha esse barco e conduza-o a águas mais tranquilas. Idas e vindas. Chegadas e partidas. É assim que navegamos por diferentes mares. É assim que tocamos o nosso barco, sempre, de setembro - a -setembro.
Viviane B. Mentges
Psicóloga Clínica
CRP 07/33795
Referências:
Zimerman, D. E. (2008). Vivências de um Psicanalista. Artmed Editora.
World Health Organization (WHO) - YouTube https://www.youtube.com/c/who (acesso em setembro de 2022)
*Vídeo com tradução em português disponível em https://youtu.be/oBwbOG7JUu8